Lagos,
24 de Junho de 2012
sobre
As Remessas do
Emigrantes
Portugal
sempre usou a política da emigração portuguesa para ajudar no
equilíbrio das contas do país, pois era garantido que os emigrantes
portugueses enviariam para o país as suas economias que iriam
aumentar as reservas de divisas estrangeiras existentes em Portugal
que seriam usadas para pagar parte da dívida portuguesa ao exterior.
Sempre assim foi , mas já não é!
A
Balança de Pagamentos de qualquer país referente a um determinado
período, para além dos fluxos visíveis – compra e venda
de mercadorias, isto é, importações e exportações – tem ainda
os fluxos invisíveis – transportes, seguros – e
rendimentos – dividendos, juros, remessas
de emigrantes e envios de
imigrantes.
O
que há de diferente entre a emigração portuguesa para a Europa
dos anos 1960 e a emigração portuguesa dos anos mais recentes
prinicipalmente para a Europa, mas não só?
A
emigração portuguesa dos anos 1960 era não-qualificada,
sem qualquer conhecimento da língua do país-receptor. Iam fazer os
trabalhos, com contratos sem termo, que os do país não queriam
fazer, não eram integrados na sociedade porque eram olhados
com desdém pelos do próprio país. Consequências:
desejo
de regressar a Portugal logo que tivessem as economias suficientes
para construir a sua casa e criar um meio de subsistência que lhes
garantisse uma vida decente;
logo,
envio constante das economias que o casal conseguisse amealhar para
os bancos em Portugal;
os
filhos frequentavam a escola e assim falavam a língua do
país-receptor como as crianças naturais. Se nascessem nesse país,
teriam nomes iguais aos deste país e sentiam-se completamente
integrados. Quando regressavam a Portugal com os pais nas férias
não gostavam do que viam e, enquanto os pais sonhavam em regressar;
eles sonhavam encontrar um meio de permanecer no país onde nasceram
e/ou cresceram. Assim foi acontecendo: os pais regressavam, mas eles
construíam as suas vidas e famílias lá e não enviavam divisas
para Portugal. Isto em geral; claro que há sempre excepções.
Nessa
altura, Portugal praticamente não tinha imigrantes a não ser das
colónias portuguesas mais pobres. Então o saldo, isto é, a
diferença entre a entrada e saída de divisas de Portugal era
bastante positivo porque não havia praticamente saída de divisas
que anulasse as entradas.
Nos
anos mais recentes, vive-se em Portugal uma situação diferente.
Portugal
tem andado a viver na bancarrota evitada com empréstimos de dinheiro
que o Estado faz, mas que precisa pagar com juros nos prazos
estipulados. Na bancarrota, tudo fica reduzido a zero praticamente:
banca, depósitos, dinheiro em colchões, reformas, salários, ….
Depois
tudo vai começando a ser retomado e de acordo com a retoma assim
toda a economia, sociedade começa a funcionar segundo as novas
regras e segundo as novas possibilidades do Estado, das empresas, das
famílias, da banca, …
Portugal
sempre viveu em crise, salvo raras excepções. Acontece que por
volta de 2007, a crise portuguesa teve o apoio da crise mundial e o
Governo de Portugal para poder deixar marca e entrar na moda
internacional do endividamento, tornou a vida em Portugal
insuportável e com poucas esperanças para muitos portugueses,
consequência dos milhares e milhares de falências de empresas,
pequenas e médias, que dominavam o tecido empresarial português –
94% e de milhares e milhares de falências de indivíduos que
acreditaram na moda do crédito. A banca fica sem liquidez e os
portugueses de bolsos vazios. A corrupção cresce sem controlo.
Acontece a emigração portuguesa fomentada pelo Governo e pela
vontade dos próprios portugueses que não têm alternativa à
emigração.
Esta
emigração tem dois níveis gerais bem distintos:
1-
portugueses, principalmente homens, com baixo nível de escolaridade
e que mal sabe falar o português. Não encontra trabalho noutros
países por onde ande porque atualmente exige-se que saiba falar a
língua nativa ou o inglês fluentemente e tenha qualificações seja
para que trabalho for; mas com apoio de outros já instalados sempre
desenrasca alguns biscates que sempre rendem mais do que em Portugal
e lá vai enviando algum dinheiro para Portugal.
2-
portugueses com nível de estudos universitários – licenciaturas,
mestrados, doutoramentos – que em Portugal, com sorte, não
conseguem mais do que o salário mínimo e conhecedores de línguas
estrangeiras principalmente inglês, mas sem dificuldade em aprender
qualquer outra língua, jovens que se aventuram por esse mundo fora e
depressa encontram trabalho e estatuto social muito superiores aos
que alguma vez teriam até num Portugal civilizado. Formam família
ou mandam buscar a sua família e ficam completamente integrados e
prontos a integrar o circuito de emprego dos universitários por esse
mundo.
Claro
que estes jovens não vão mandar divisas para Portugal porque
os seus ascendentes vão sobrevivendo sem o seu sacrifício e porque
o país não garante nem segurança nem dividendos comparáveis aos
que o país-receptor ou outros países oferecem nem estatuto social.
Também não estão a pensar em regressar ao país se este não
passar a oferecer melhores condições de vida a não ser que
pertençam a grupos que os incentivem a regressar para passarem a
grupos dominantes.
Assim
esta emigração dominante é completamente diferente da emigração
dominante dos anos 1960 e consequentemente os fluxos de divisas
também já que agora a imigração é elevada em Portugal.
Comparativamente têm desistido muito poucos imigrantes que continuam
a enviar/levar euros de Portugal para os seus países de origem
porque lá, por enquanto, ainda têm uma situação pior. Deste modo,
as remessas de divisas que portugueses enviam/trazem para Portugal
vão sendo praticamente anuladas pela imigração em Portugal.
Por
isso, contar com as remessas de divisas enviadas pelos emigrantes
portugueses para equilibrar a Balança de Pagamentos é “chão
que já deu uvas” e já não dá segundo a sabedoria popular. É
a minha opinião! ❐
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