=
AS MINHAS LEITURAS =
in
livro “O
Desafio de Obama – a crise da economia americana e o poder de uma
presidência transformadora”
de Robert
KUTTNER; colecção
NOVO MILÉNIO; Editorial PRESENÇA; Lisboa 2009, pp.219.
(pp.19-36)
(…) todos os grandes presidentes recorreram à sua capacidade de
liderança,
em
primeiro lugar, para transformar o entendimento público a respeito
dos desafios nacionais e,
em
segundo, para ultrapassar impasses derivados de obstruções do
Congresso, do poder de grupos de interesse, da passividade do
eleitorado assim como da sabedoria convencional.
Cada
um à sua maneira encontraram aliados, cada um deles cresceu
interiormente imenso durante o respectivo mandato. Cada um deles
começou por transformar o ambiente nacional e, em seguida, a
direcção da política nacional, sujeitando-se a enormes riscos
políticos em nome de princípios pelos quais as pessoas lhes viriam
a desenvolver um profundo respeito. Com frequência atraíram alguns
membros dos partidos da oposição e também foram grandes
unificadores. Estes presidentes incentivaram movimentos em prol da
mudança (para o bem comum) e assim pressionaram-se a si próprios e
ao Congresso para que fossem muito para além do que era considerado
concebível – a audácia da esperança. Geraram um ímpeto
acelerado tendo em vista reformas drásticas que se revelou
politicamente irresistível. A História sugere que não basta a um
presidente dispor de maioria no Congresso, precisa também de ser
capaz de mobilizar apoio alargado tendo em vista mudanças
significativas em todo o país.
Ser
um presidente inovador significa compreender a corrente dominante,
mas ser líder da mudança necessária no momento, discernir
aspirações tácticas e necessidades por satisfazer nas pessoas e,
em seguida, fazer dessa mudança inovadora a perspectiva dominante
pela qual a população clama. Este empreendimento requer sabedoria,
capacidade de decisão e de liderança. Acima de tudo, precisa de
reabilitar o papel
construtivo do governo
quer no espírito das pessoas quer no que o governo tem para
oferecer.
Os
candidatos a presidentes ao reunirem legiões de equipas de sondagens
e de consultores de campanha arriscam-se a ficarem reféns delas.
Lincoln, Roosevelt, Lyndon Johnson não precisavam de sondagens.
Desfrutavam de uma perfeita sintonia com a opinião pública, um
talento que contribuiu para que fossem excelentes estrategos com uma
excelente bússola interior.
(pp.37-124)
Atualmente vivemos na mais grave crise financeira desde a Grande
Depressão e uma recessão profunda. Esta crise é o resultado
desnecessário de desregulamentação excessiva – tramóias
a mais do sector privado, governo a menos para as contrabalançar.
Um
sistema financeiro extremamente enfraquecido deu origem a uma
contracção do crédito que as taxas de juro baixas podem apenas
melhorar, não curar. Nas atuais circunstâncias, só há uma
política geral de abordagem capaz de resgatar a economia da situação
em que se encontra e devolvê-la ao caminho da prosperidade
amplamente partilhada:
restabelecer
a tributação sobre as empresas e os americanos mais ricos,
reduzir
os gastos em guerras no estrangeiro,
incorrer
em défices temporariamente mais elevados eutilizar
as receitas para investimentos sociais de vulto (devido ao grande
aumento do desemprego e também para apoiar a criação de novas
empresas)
complementar
os resgates financeiros dos bancos com uma supervisão e uma
regulamentação muito mais rigorosas.
Roosevelt
costumava deixar os seus assessores mais próximos exasperados ao ter
conversas com pessoas de que nunca ninguém tinha ouvido falar. Obama
tem também a perspicácia de aprender com os erros e de fazer
correcções de rumo e escolheu nomear um conjunto de assessores
ideologicamente díspares e ouvir cuidadosamente todos os argumentos
antes de retirar as suas próprias conclusões.
É
preciso começar por objectivos exequíveis e prestar muita atenção
à sequência, às prioridades e à lógica das grandes
transformações que dão início às reformas incrementais.
“Por
liderança
refiro-me não apenas aos líderes
de transacção que
prosperam graças a acordos, compromissos e manipulações dentro de
um dado sistema, mas aos líderes
transformadores
que dão resposta a necessidades, esperanças, expectativas e desejos
humanos fundamentais e que são capazes de transcender e mesmo de
procurar reconstruir o sistema político ao invés de se limitarem a
operar no seu seio.” de James
MacGregor Burns
O
presidente Roosevelt,
na sua primeira Conversa à Lareira, deixou claro que o mercado
privado tinha falhado e que a ajuda do governo ia a caminho.
Instaurou-se a si próprio enquanto líder do governo e, nesse papel,
enquanto defensor do americano médio que estava a passar
dificuldades sem que tivesse qualquer culpa disso. Ainda demoraria
sete anos para o país sair da Grande Depressão, mas a população
sabia que tinha um amigo na Casa Branca, um amigo que aproveitara a
oportunidade para recordar aos cidadãos que as políticas liberais
tinham falhado e que o governo era a fonte de auxílio.
Os
cientistas políticos estabelecem a destrinça entre poder
e autoridade.
O poder pode traduzir-se na força bruta e a autoridade conquista-se
através do respeito. O receio do poder presidencial abusivo é o
reverso da medalha do desejo ardente de autoridade legítima que só
uma grande liderança será capaz de restabelecer.
Todas
as reformas transformadoras implicam lutas. A reforma exige a
mobilização dos menos poderosos, por vezes, a concessão de poder a
uma minoria corajosa e, por vezes, a conquista do apoio das pessoas
quase do zero. Os grandes presidentes souberam como usar as palavras
com fins inspiradores, mas também souberam como fazer jogo duro. Há
ocasiões em que os presidentes fazem atrasar o progresso. “Os
líderes, por muito que se afirmem em prol da harmonia, não se
esquivam ao conflito; enfrentam-no, exploram-no e, com o tempo,
acabam por personificá-lo.”
escreveu James MacGregor Burns.
O
presidente Abraham Licoln
conseguiu ser um líder pelo seu carácter “sem malícia
para com ninguém”. A “equipa
de rivais” de Licoln incluía
todos os representantes das diversas facções à excepção dos mais
radicais. O gabinete era um reduto de intriga. Licoln conseguiu
mantê-lo unido graças a uma cortesia e a um respeito excepcionais
bem como à capacidade para liderar através do exemplo e do
ensinamento. O que fazia das pessoas suas aliadas e admiradoras não
eram apenas a sua inteligência e o seu bom-humor. Acima de tudo,
eram a sua bondade, a sua decência, o seu idealismo e a sua honra.
Não se poupou a esforços para fazer saber às pessoas que eram
valorizadas quando podia
ter optado por humilhá-las. Tinha uma intuição apurada para quando
devia aguentar firme,
quando esperar
e quando liderar.
Talvez o seu maior dom fosse a sua generosidade.
Possuía uma capacidade admirável para transformar adversários em
aliados e depois em admiradores.
A
presidência (de um país) oferece oportunidades extraordinárias,
muitas vezes inexploradas, para a liderança. Um presidente dotado de
eloquência e de princípios detém um poder imenso para definir o
momento e para transformar a nação. O ingrediente secreto para uma
liderança presidencial duradoura reside no carácter. Para que o
êxito possa ser duradouro, a liderança presidencial não poderá
deixar de se firmar na realidade.
Atualmente
a realidade é uma crise económica profunda. É uma realidade que
muitos políticos estão dispostos a reconhecer, mas que poucos estão
preparados para enfrentar. Antes de ser controlada, a crise tem de
ser especificada.
A
equipa de especialistas Demos
dirige um programa Public Works
empenhado em desvendar como os líderes políticos podem criar e
debater sobre um governo eficaz. A essência do programa
fundamenta-se na ideia de que o governo é um conjunto de estruturas
públicas que nós, enquanto cidadãos, criamos e no qual depositamos
a nossa confiança para auxiliar as pessoas e as empresas. O governo
ajuda-nos a protegermo-nos dos riscos que não estamos em condições
de enfrentar sozinhos. O governo é tanto o produto como o locus
da democracia política e só será bom na medida em que a democracia
também o for. As nossas instituições democráticas são o local
onde nos reunimos para planear o bem comum; cabe-lhes a elas
organizar o nosso ambiente e o nosso futuro. Se estas estruturas
forem desmanteladas, depreciadas, dotadas de financiamento
cronicamente insuficiente ou se forem desgastando a partir do
interior, todos os cidadãos ficarão mais pobres.
A
liderança implica frequentemente marcar uma posição que não seja
defendida pela maioria dos eleitores e conseguir conquistar o seu
apoio. A liderança pode ser boa ou má, baseada na realidade, na
ilusão e no engano, mas nunca se trata simplesmente de perceber para
onde é que o país se inclina e ir até lá.
Três
motivos por que os consultores falhavam:
em
primeiro lugar, muitos consultores que tinham talento para operações
de campo tácticas – pôr a maquinaria da campanha a postos –
acabavam a oferecer aconselhamento estratégico para o qual muitas
vezes não tinham competência;
em
segundo lugar, existiam conflitos de interesse flagrantes, (talvez
promovidos no segredo pelos adversários). Os consultores
incompetentes têm uma carreira ascendente garantida porque são
“yesmen”;
em
terceiro lugar, “os consultores servem para preencher uma lacuna,
para desenvolverem um conjunto de políticas e linguagem interligadas
sempre à disposição dos candidatos e das respectivas campanhas”
O
governo precisa de garantir que os mercados financeiros
especulativos nunca mais irão empurrar a economia para uma
recessão grave e desnecessária. Foi implementado um código de
regras destinado a tornar a competição justa, aberta e honesta com
o objectivo de promover a prosperidade e a liberdade. A essência do
êxito da nossa economia reside na verdade fundamental de que cada
americano se sai melhor na vida quando todos os americanos saem
melhor na vida; quando a prosperidade das empresas americanas, dos
seus mercados de capital e do povo americano estiverem em
consonância. Perdeu-se a noção de prosperidade partilhada e
esta perda não foi acidental. Permitiu-se que os interesses
particulares desequilibrassem a balança da nossa economia. É
necessário estabelecer um enquadramento regulador adequado ao século
XXI.
(…)
(pp. 128-138) Começar
pelo mais urgente
As
primeiras medidas de Obama deveriam ser destinadas ao auxílio
concreto aos indivíduos, às famílias e às comunidades. É
necessário prover ao alargamento dos subsídios de desemprego para
os Estados e as localidades cuja quebra de receitas os obrigou ao
corte de serviços, implementar a primeira fase de um projecto a
longo prazo de reconstrução das infraestruturas públicas,
principalmente obras básicas de manutenção em atraso e em energias
renováveis eficientes.
O
investimento nas obras públicas poderia ser associado ao aumento dos
subsídios destinados à formação profissional para reduzir falhas
na disponibilidade de mão-de-obra especializada: adaptação das
habitações e dos escritórios para uma maior eficiência
energética, o alargamento de projectos-piloto já implementados em
algumas cidades de pequena dimensão.
A
31 de Julho, Obama propôs a criação de um Fundo
Estadual de Desenvolvimento
destinado a prevenir cortes estaduais e locais nos subsídios à
saúde, à educação e ao alojamento ou aumentos inadequados nos
impostos sobre bens imóveis, nas portagens e nas taxas. Trata-se de
um programa de reserva (de capital; por isso é importante o
superavit. Em tempos de não-recessão os juros deste capital em
reserva seriam receita para o Orçamento)) pronto-a-lançar de
investimento antirrecessão em infraestruturas públicas. A ideia
pressupõe que as localidades se possam habilitar antecipadamente a
projectos preaprovados que poderão então ser implementados dentro
de prazos relativamente curtos. Sempre que uma recessão se fizesse
sentir, o Governo Federal disponibilizaria os fundos, sendo o
dinheiro repartido entre as diversas localidades de acordo com uma
fórmula.
Numa
primeira fase, o investimento em obras públicas federais poderia
começar pela disponibilização de verbas urgentemente necessárias
e de empregos num breve prazo de noventa dias – consertar e renovar
estradas, pontes, meios de transporte, parques, escolas, edifícios
públicos ou a impedir cortes orçamentais tanto a nível estadual
como local. A elaboração de um sistema de planeamento para uma
segunda fase mais alargada exigiria cerca de seis meses. Durante a
Grande Depressão, o presidente Roosevelt conseguiu põr o dinheiro a
circular em poucas semanas. Posteriormente a Administração das
Obras Públicas não apenas concretizou melhoramentos públicos
tangíveis e criou empregos como também desenvolveu um sistema de
planeamento local que permitia que os cidadãos discutissem e
debatessem os projectos apresentados, dotando-os assim de um papel no
estabelecimento das prioridades locais.
Porquê
começar assim?
Em
primeiro lugar, esta abordagem possibilitaria a distribuição de
auxílio tangível, visível e rápido.
Em
segundo lugar, são despesas que agradam aos contribuintes. As
regiõess mais fortemente atingidas pela crise ficariam habilitadas a
auxílios suplementares.
Em
terceiro lugar, uma quebra económica agravada por uma contracção
do crédito é uma grave recessão. À medida que a actividade
económica abranda, aumentam os incumprimentos por parte das
empresas. Empréstimos perfeitamente viáveis em circunstâncias
normais passam a ser rejeitados ou aceites mediante taxas de juro
mais elevadas porque os bancos se recusam a arriscar. Então o
investimento público precisa de fazer um esforço maior a fim de
contrabalançar o efeito depressivo da contracção do crédito para
impedir que o pânico e a confusão se intensifiquem ainda mais.
Durante
a derrocada financeira da Grande Depressão, Roosevelt optou por
gastos deficitários desconhecidos em tempos de paz em torno dos 4 a
6 por cento do PIB. Em vésperas da mobilização para a guerra, o
desemprego reduziu-se para metade, de 25% para 12% e a economia
continuava a resvalar em sucessivas recessões. Só um idiota se
lembraria de aconselhar austeridade fiscal numa recessão profunda.
A
longo prazo há uma razão que justifica a subida dos impostos pagos
pelos muito ricos e a aplicação desse dinheiro em obras públicas
ou em investimento em independência energética, na ciência e na
tecnologia ou em apoios ao ensino. O motivo prende-se com o facto de
a totalidade do dinheiro ser aplicada ao passo que os
rendimentos isentos de impostos dos muito ricos poderiam ser
poupados, transferidos para o estrangeiro ou investidos em fins
improdutivos como diamantes, ouro ou arte precolombiana.
Em
termos fiscais, tal como o presidente Roosevelt reconheceu, as regras
orçamentais que fazem sentido em circunstâncias normais não se
aplicam a casos de emergência económica. Ao longo de todo o ciclo
comercial, défices de cerca de 2% do PIB, constituem uma medida
sensata. Numa altura de recessão grave, faz sentido aumentar os
gastos deficitários e em circunstância alguma um programa de
investimento público poderá ficar dependente do equilíbrio do
défice e muito menos visar uma reforma a longo prazo da Segurança
Social. Para lá de um programa imediato destinado à criação de
postos de trabalho (mantendo as empresas que existem e fomentando
a criação de novas empresas) e ao alívio fiscal das
comunidades, o governo vigente tem de se movimentar em múltiplas
frentes. O princípio fundamental é começar por fazer o que for
preciso para estancar a hemorragia (da recessão)
enquanto se visa a preparação de êxitos mais alargados no futuro.
O
problema da habitação
Até
Julho de 2008, os proprietários de casas vinham a perder biliões de
dólares em home equity (valor atual das casas) a principal
forma do seu valor líquido. Durante o período de expansão, à
medida que os salários se desvalorizavam devido à inflação, os
valores (equities) das casas ultrapassavam o valor da inflação
e os proprietários adquiriram o hábito de pedir empréstimos ao
banco, dando a casa como garantia, mas a taxas de juro elevadíssimas.
Na primavera de 2008, mais de metade do valor das casas americanas
assentava em dívidas, era o pior quociente entre dívida e equity
desde a Segunda Guerra Mundial.
Em
finais de Julho, o projecto-lei relativo à habitação Frank-Dodd
incluía medidas destinadas às pessoas com empréstimos subprime
a taxas de juro elevadíssimas obterem um refinanciamento a taxas
mais moderadas com os empréstimos garantidos pela Federal
Housing Administration FHA (Administração Federal da Habitação)
. O Congressional Budget Office CBO (Gabinete de Orçamentos
do Congresso) prevê que os bancos se irão desembaraçar dos
empréstimos mais arriscados e entregá-los à FHA e que 35% destas
hipotecas a baixas taxas de juro irão acabar em incumprimento, à
custa dos contribuintes. O programa de auxílio funcionará mais em
proveito dos bancos do que dos proprietários. Se o governo fosse
democrata e não conservador, este programa incluiria um fundo
que permitiria aos governos locais e organizações sem fins
lucrativos adquirirem as casas sujeitas a execução hipotecária e
as devolverem ao mercado de arrendamento ou as venderem com hipotecas
a mais baixas taxas de juro a compradores de médios recursos.
Na
era do presidente Roosevelt, perante a subida em flecha das execuções
hipotecárias, no início da década de 30, o Novo Acordo
inventou a hipoteca moderna a longo prazo que se vai amortizando
gradualmente. O governo garantia este tipo de hipotecas para que as
entidades credoras as aceitassem, criando a Federal National
Mortgage Administration FNMA (Administração Federal Nacional de
Hipotecas) para instituir um mercado secundário destinado a comprar
as hipotecas aos credores, convertê-las em títulos governamentais e
reabastecer os fundos do banco para que este pudesse conceder novos
empréstimos. Quando a situação se agravava, o presidente Roosevelt
e o Congresso criaram a Home Owners Loan Corporation HOLC
(Associação para Empréstimos a Proprietários de Imóveis) que
concedia empréstimos directos a juros baixos, à taxa de empréstimo
do próprio governo. Ao longo da sua actividade, a HOLC acabou por
refinanciar uma casa em cada cinco, poupando muitas famílias de
execuções hipotecárias, restabelecendo a normalidade do mercado
imobiliário e compensando a queda livre dos preços das casas.
Devido a não ter existido corrupção e os padrões dos empréstimos
se terem mantido, quando a HOLC encerrou, em 1952, rendeu um lucro
modesto ao Tesouro. Quando as pessoas que trabalham no Governo, o
dirigem com competência, o sector público consegue frequentemente
obter melhores resultados do que o privado, sobretudo quando visa a
parte social. A FNMA não teve escândalos financeiros ou perdas
bancárias; desempenhou o seu papel na perfeição e havia crédito
bancário em abundância. A taxa de posse de casa subiu 44% em 1940 e
64% em meados de 1960s. Depois que a FNMA foi privatizada e
passou a ser Fannie Mae e os seus gestores passaram a pagar a
si próprios salários multimilionários e a enveredar por
riscos financeiros exóticos a instituição meteu-se em grandes
problemas.
A
crise da habitação cria a oportunidade de o governo ligar as casas
sujeitas a execução hipotecária a aspirantes a proprietários ou
arrendatários de imóveis à procura de alojamento a preços
módicos. O que falta são hipotecas subsidiadas e emprestadores
comunitários criativos. Para que as pessoas de médios rendimentos
possam adquirir casa própria, o caminho mais seguro é usar as
hipotecas subsidiadas com taxas inferiores às praticadas no mercado
e aconselhamento.
(pp.146-149)
(…) As agências de classificação de obrigações, nos moldes em
que atualmente se apresentam, revelam múltiplos conflitos de
interesses. São pagas por promotores de títulos de crédito por
trabalho consultivo destinado a permitir que estes títulos de
crédito conquistem uma classificação AAA conferida pelas próprias
agências de classificação de obrigações. Tivessem estas agências
agido de forma imparcial e as obrigações baseadas em empréstimos
hipotecários subprime teriam tido poucos compradores. As
agências de classificação de obrigações que negoceiam com firmas
que garantem títulos de crédito contra incumprimento, castigam
sistematicamente as obrigações públicas com classificações mais
baixas em comparação com as obrigações do sector privado de
modo a ajudar as seguradoras a atrair honorários. O sistema
seria mais eficaz e transparente se a classificação das obrigações
fosse efectuada por uma instituição pública ou sem fins
lucrativos, cujos custos poderiam ser cobertos por uma taxa muito
reduzida aplicada à totalidade das transacções financeiras.
O
propósito fundamental dos mercados de crédito e de capital é a
canalização de fundos dos investidores para os empresários.
Esta actividade encontra-se infestada de intermediários que inventam
produtos complexos que pouco ou nada contribuem para a eficiência
dos mercados de crédito, amplificam riscos sistémicos e servem
maioritariamente para lhes rechear as carteiras e para
corromper os seus aliados. A população precisa de compreender o
surpreendente duplo padrão: biliões de dólares de auxílio estão
a ser aplicados no resgaste dos especuladores mais ricos do país
e nas instituições financeiras que eles colocaram em risco de
colapso e de dezenas de milhões de cidadãos americanos a braços
com as consequências destes abusos que pouco ou nada recebem
“os bancos são grandes de mais para ir à falência e o cidadão
comum é pequeno demais para ser resgatado” afirma John Bogle,
fundador do Vanguard Group. A regulamentação financeira
eficaz necessita de uma dimensão internacional. Deve-se
aplicar o princípio de Obama segundo o qual se deve “regulamentar
as instituições por aquilo que fazem e não por aquilo que são”,
incluindo as que estão domiciliadas offshore. Basta criar uma
regra que determine que todas as sociedades financeiras que
transaccionem nos Estados Unidos devem ser sujeitas ao mesmo tipo
de análise minuciosa a que são sujeitas as sociedades
nacionais. Na década de 1930, a Reconstruction Finance
Corporation RFC (Autoridade de Reconstrução Financeira) de
Roosevelt recapitalizou inúmeros bancos e sociedades. O Novo
Acordo empenhava-se também em criar um sistema moderno de
regulamentação financeira a fim de poupar futuras gerações
aos ciclos de especulação, crashes
e resgates.
(pp.153-196)
(…) Há necessidade de transformar a tendência que se verifica há
trinta anos no sentido da má qualidade e da insegurança do emprego.
A Escandinávia não tem empregos no sector dos serviços humanos
porque tomou a decisão de que todas as pessoas encarregadas de tomar
conta dos doentes, dos idosos e das crianças são profissionais ou
pelo menos paraprofissionais e devem receber uma remuneração
equivalente. Lá as pessoas que trabalham em infantários ou em
centros de ensino préescolar ou são professores ou estão a fazer
estágio para professores. As investigações mais recentes na área
do desenvolvimento infantil demonstraram que um dólar investido na
educação das crianças é um dos investimentos mais rentáveis que
se pode fazer. Através de lutas sociais bem-sucedidas, do
crescimento dos sindicatos e da aprovação de leis, a maior parte
dos empregos passou a proporcionar salários decentes e
benefícios adicionais. A lealdade à empresa passou a ser
retribuída. Foram criados e respeitados sistemas de reparação de
injustiças.
Nos
Estados Unidos, nos últimos anos, a tendência para o emprego
temporário tornou-se a norma e os empregos temporários e de alta
rotatividade constituem o padrão. Estudos realizados em lares da
terceira idade mostraram que os funcionários mais bem preparados e
mais bem pagos estavam em condições de evitar o aparecimento de
problemas dispendiosos. Apesar de a América precisar de mão-de-obra
mais qualificada, a educação é apenas um dos factores que
condicionam os salários; outro factor é o poder exercido
pelos sindicatos. O facto de a gerência ser obrigada a pagar
salários mais altos faz com que os proprietários dos hotéis se
sintam inclinados a investir na formação profissional e na fixação
dos seus funcionários de modo a valorizar o dinheiro investido;
em
segundo lugar, os salários têm vindo a atrasar-se em relação à
inflação numa altura em que cada vez há mais jovens americanos a
concluírem cursos universitários. Dezenas de milhões de
licenciados acabam por ir desempenhar funções que não exigem um
curso universitário. Faz-nos falta uma política activa de
mercado laboral. A Dinamarca, um país pequeno e altamente
dependente do comércio, desenvolveu o seu modelo de flexissegurança
– uma grande flexibilidade no mercado laboral associada a uma
óptima segurança dos trabalhadores. Os mercados financeiros
dinamarqueses são limpos e transparentes, as barreiras
que o país coloca às importações são mínimas, os seus mercados
laborais encontram-se entre os mais flexíveis da Europa, as suas
multinacionais são dinâmicas e acham-se maioritariamente a salvo
das políticas industriais e a taxa de desemprego do país, 2,8%, é
a segunda mais baixa da OCDE.
Por
outro lado, a Dinamarca gasta cerca de 50% do PIB em iniciativas
sociais e apresenta a segunda taxa fiscal mais alta do mundo a seguir
à Suécia para além de sindicatos fortes e de uma das
distribuições de rendimentos mais igualitárias do mundo. Em
troca dos 50% do PIB que pagam, os dinamarqueses recebem um seguro de
saúde universal, planos generosos de apoio social à infância e de
licença para assistência à família, subsídios de desemprego que,
em geral, cobrem cerca de 95% dos rendimentos perdidos, ensino
universitário gratuito, pensões de reforma garantidas na velhice e
o sistema de reciclagem de mão-de-obra mais criativo do mundo.
Há
seis características-chave que asseguram que o modelo de
flexissegurança seja quer atractivo para os trabalhadores
quer dinâmico em termos da sociedade: emprego pleno;
sindicatos fortes reconhecidos enquanto parceiros sociais; salários
consideravelmente equilibrados entre os diversos sectores de modo a
que uma mudança da indústria para o sector dos serviços não
represente uma quebra de rendimentos; liberdade por parte das
entidades patronais para fazerem contratações e despedimentos
consoante as necessidades; uma plataforma salarial abrangente e um
conjunto de programas de mercado laboral que aplica 4,5% do PIB
dinamarquês em iniciativas como assistência temporária em caso de
desemprego, subsídios de vencimento e formação profissinal de
elevada adaptabilidade. Em troca destes gastos, os sindicatos apoiam
activamente quer a flexibilidade de emprego quer um conjunto de
regras rígidas destinadas a eliminar a utilização fraudulenta da
Segurança Social; parte-se do princípio de que os trabalhadores têm
tanto direitos como obrigações.
Um
trabalhador dinamarquês, que fique desempregado, tem direito a
benefícios generosos, mas não pode limitar-se a ficar de braços
cruzados sem fazer nada; é obrigado a aproveitar uma ampla selecção
de oportunidades de instrução e de formação profissional, a
maioria das quais lhe darão acesso a um emprego tão bom ou melhor
ainda do que aquele que perdeu. Este sistema produz uma economia
altamente dinâmica e competitiva em que não se registam
extremos de riqueza nem de pobreza. O modelo dinamarquês realiza a
reconciliação entre o comércio livre e a segurança económica.
Num sistema global em que as empresas podem deslocar-se de um local
para outro em busca de impostos baixos, mão-de-obra barata e fraca
regulamentação social, Marina Hoffman, principal economista da
Federação dos Metalúrgicos Dinamarqueses, afirma “Nós somos
um país pequeno e a nossa sobrevivência depende das exportações …
Se uma indústria multinacional dinamarquesa puder ser mais
competitiva se subcontratar os seus componentes, seremos todos mais
competitivos enquanto nação”.
Na
Dinamarca, um funcionário de um lar de idosos, por exemplo, recebe
muito mais formação e aufere de um estatuto e de um salário muito
mais elevado do que nos Estados Unidos. Tendo em conta a liberdade de
as entidades patronais dispensarem os empregados à medida das suas
conveniências e o direito de todos os dinamarqueses a generosos
benefícios sociais, não existem empresas de trabalho temporário. O
número de dinamarqueses a contrato temporário tem vindo a decrescer
desde meados da década de 1980. A grande maioria dos desempregados
torna a entrar no mercado laboral em menos de seis meses e a taxa de
desemprego a longo prazo é praticamente nula. A Dinamarca apresenta
a percentagem mais alta a nível mundial, 47%, de trabalhadores que,
de alguma forma, prosseguem estudos. A mão-de-obra altamente
produtiva contribui para o florescimento das indústrias
dinamarquesas quer vastas quer especializadas, orientadas para a
exportação e os salários são cerca de 70% mais
altos do que a média dos países da OCDE, mas a alta
produtividade da mão-de-obra dinamarquesa justifica-os. O
sistema de flexissegurança dinamarquês é fruto de mais de um
século de acordos sociais consensuais com os sindicatos na qualidade
de parceiros igualitários, pontuado por crises periódicas. O atual
sistema data de princípios da década de 1990, um período em que a
Dinamarca sofria de uma taxa de desemprego renitentemente alta. Nessa
época, havia dinamarqueses adultos e capazes que se aproveitavam dos
subsídios de desemprego e de invalidez para se manterem afastados do
mercado de trabalho, um embaraço para a ética do trabalho que
estava a tornar o sistema insustentável e a pôr a sua legitimidade
em causa. Num compromisso, os sindicatos aceitaram apoiar medidas
severas contra os abusos mediante a restrição do direito ao
subsídio de desemprego e a criação de planos individualizados
de reintegração no mercado de trabalho que exigiam que os
desempregados se reunissem regularmente com os respectivos
consultores para encontrar um novo emprego, muitas vezes em funções
diferentes frequentemente com a ajuda dos centros de emprego do
sistema. Afinal o objectivo do movimento sindical é facilitar e
recompensar o emprego e não a ociosidade. Um desempregado que se
inscreva no centro de emprego pode candidatar-se a oportunidades como
a aprendizagem para adultos e o ensino universitário. “Quando
as empresas se apercebem de que podem desembaraçar-se da mão-de-obra
sempre que as condições do mercado assim o exigem, não hesitam em
contratar pessoal em caso de retoma.” afirma Mogens Lykketoft,
antigo ministro das Finanças e um dos principais criadores da nova
estratégia.
As
energias renováveis
Os
Estados têm-se empenhado em acelerar o desenvolvimento e a
utilização das tecnologias solar e eólica através da exigência
de que os serviços públicos adquiram uma certa parte da energia que
consomem a fontes renováveis a partir de uma determinada data. O
objectivo é que os produtores de energia solar, seguros de um
mercado em expansão, passem a aumentar o respectivo investimento e
capacidade de produção. Todas estas medidas têm de ser
implementadas em larga escala e isto só pode ser conseguido através
do investimento público, da regulamentação pública e de uma
viragem nas atuais políticas fiscais. A maior parte da energia é
consumida em três tipos de locais: os edifícios, os veículos
e as fábricas. Em todos os três existem amplas oportunidades
quer para a defesa do ambiente quer para as novas tecnologias. Todas
elas têm potencial para incrementar a actividade económica interna,
restabelecer a liderança tecnológica e aumentar a disponibilidade
de bons empregos.
Comunidade,
Governo e autoconfiança
O
melhor antídoto para a pobreza é um emprego, mas o emprego
tem de garantir um salário digno.
Partidos
(p.196)
O
que é um partido político? V. O. Key Jr. estabeleceu a diferença
entre o partido institucional, o partido no Governo e o
partido no eleitorado. O partido institucional é a maquinaria
que toca às campainhas, recruta e treina os candidatos, regista os
eleitores e consegue garantir os votos. Idealmente mantém-se activo
tanto durante como nos intervalos entre as campanhas. O partido no
Governo é a aliança, forte ou fraca, entre o chefe do executivo e
os seus líderes de bancada e os senadores e deputados no Congresso
que apoiam ou frustram os seus programas e o partido no eleitorado é
a identificação partidária dos próprios votantes.
Cidadania
Democrática (p.202-206)
Na
época de Roosevelt, o governo prestava uma verdadeira assistência e
os cidadãos retribuíam. As Quatro Liberdades de Roosevelt são
representadas por quatro cartazes em que estão o povo liberto da
fome sentado em redor de um jantar do Dia de Acção de Graças à
base de perú, também um cidadão comum numa reunião da câmara
municipal não apenas a exercer a liberdade de expressar as suas
próprias opiniões, mas também a ser encorajado a acreditar que o
que tem para dizer pode fazer a diferença. O Governo efectivo
e a cidadania participativa enaltecem-se mutuamente.
Para
além do acréscimo da participação cívica quer através da
liderança inspiradora quer mediante ajuda prática,
existe uma longa lista de medidas necessárias há muito adiadas,
destinadas a superar os obstáculos à participação e a atrair os
eleitores às urnas. Um presidente empenhado em expandir e em
aprofundar a democracia americana poderá dirigir uma nova era de
renovação democrática. A psicologia implícita caracteriza-se pela
circularidade. O governo competente e a participação da
população revigoram a confiança na capacidade empreendedora do
governo o que, por sua vez, revigora o impulso cívico.
Existem
duas estratégias complementares para realçar a cidadania. Uma é
através da redução das barreiras e do acolhimento da população
no processo de participação; a outra é oferecer-lhe um motivo para
participar. O facto de as pessoas sentirem que têm um motivo para
votar contribui para o êxito da facilitação do processo de
recenseamento.
A
liderança não é uma via de sentido único. Numa democracia viva, a
população obriga os seus líderes a não perderem a honestidade.
Nas 8000 cartas que o presidente Roosevelt recebeu, as pessoas
apresentavam-lhe agradecimentos, mas também ideias, queixas e
anseios. Nas palavras de Barack Obama “o verdadeiro teste ao
ideal americano é se seremos capazes de reconhecer os nossos
fracassos e em seguida elevarmo-nos à altura dos desafios do nosso
tempo; se deixamos que sejam os acontecimentos e a História a
moldar-nos ou se agimos para sermos nós a moldá-los.” ❐
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